domingo, 27 de abril de 2008

Que seriam as consequências psíquicas da diferença anatômica dos sexos???

Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. (S. Freud (1925).ESB , vol. XIX)

“Para se compreender a diferença dos sexos tem que partir do pulsional, sendo motivada por pulsões egoístas”, cita Freud no artigo “Sobre as tórias sexuais das crianças (1908)”. Porém, para Freud existe, uma classificação inicial segundo o gênero, anterior à castração e que não implica o pulsional, segundo ele, a criança é capaz de distinguir, “graças aos signos mais exteriores”, pai e mãe, e se posicionar de um lado ou de outro. Tal distinção, diz Freud, não leva em conta a diversidade dos órgãos sexuais (no artigo: A organização genital infantil). Aqui a criança não faz ligação entre sexo e gênero ou, a apreensão deste se faz sem levar em conta o órgão sexual. Portanto a distinção dos sexos ocorre em um momento diferente da distinção dos gêneros. “Essa questão remete à identidade de gênero,” (sou menino ou sou menina) ou de sexos (sou masculino/masculinidade ou sou feminina/ feminilidade).
A construção deste quadro é complexa , e depende da etapa pré édipica e édipica .vividas na primeira infância e completada na puberdade , onde : órgão genital masculino / castrado será substituído por masculino / feminino ( “ A organização genital infantil ¨¨Vol;XIX ,pg 184 ) .

Para o entender desta dinâmica é que Freud vai analisar o inicio da vida sexual nos neuróticos, focando em sua infância, avaliando suas pulsões primárias e suas conseqüências, para assim , avaliar a formação de sua neurose .
Em sua investigação sobre a vida sexual das crianças o alvo do tema era o menino, e supunha ser igual para a menina, embora pudesse ser diferente, diferença que não podia ser determinada.
É dentro deste contexto que Freud vai pesquisar a historia pré- édipica, o complexo de Édipo e a castração, seus efeitos na estruturação da personalidade humana, de suas atuações no superego e no ideal do ego. O complexo de Édipo é fundamental na orientação do desejo e nas escolhas feitas no decorrer da vida, como escolha do objeto de amor, escolha marcada por investimentos objetais e identificações relacionadas aos conflitos édipicos. O modo como o individuo nele se introduz e o abandona, deixa marcado seu efeito.

No menino, a fase pré-édipica é do tipo afetuosa, ainda não identifica o pai como rival, ocorre aqui uma atividade.
masturbatória vinculada ao órgão genital, cuja supressão põe em atuação o complexo de castração, que coloca em risco a imagem egóica que esta em construção, e ainda causa um impacto sobre o narcisismo: o fato é considerado por ele uma parte essencial de si mesmo. Nesse período a mãe é o objeto de investimento libidinal (não ainda um objeto genital) de ambos os sexos, para o menino o objeto se manterá o mesmo, o que não ocorre com a menina, ela irá trocar por outro. O complexo de Édipo no menino pertence à fase fálica, a mãe como objeto de amor libidinal, e o pai se torna seu rival. Sua dissolução é feita pela castração, porém, não é de todo reprimido, é fragmentado pela castração. Seus investimentos libidinais são abandonados e em parte sublimados, os objetos incorporados ao ego, onde formam o núcleo do superego. Freud diz, que em casos normais ou em casos ideais, o complexo de édipo não existe mais, nem mesmo no inconsciente, o superego se tornou seu herdeiro. Tanto no menino, como na menina, o complexo de Édipo possui uma orientação dual, ativa e passiva, de acordo com sua construção bissexual. A menina deseja ser objeto de amor de seu pai, tomando o lugar de sua mãe, fato que Freud descreve como atitude feminina.

A descoberta da zona genital ocorre de forma análoga para ambos os sexos, o menino, quando vê o órgão genital da menina, não tem interesse, não vê ou rejeita, abranda a situação de acordo com suas expectativas, somente diante da ameaça de castração, que a observação se torna importante para ele, aí acredita na possibilidade desta se realizar (a castração). Essa circunstancia promove duas reações, que podem se tornarem fixas, quer separadas ou não, junto com outros fatores determinaram suas relações com as mulheres, horror da criatura mutilada (castrada) ou desprezo por elas.

No caso da menina, quando vê pela primeira vez o pênis de um menino e o identifica com seu órgão (clitóris), porém, o dele é visível e maior, superior ao seu, desperta então, a inveja do pênis. Conclui que não tem e quer telo. Segundo Freud, “o reconhecimento da castração por parte da mulher leva a um estado de insatisfação, a uma rebeldia que se instala contra a superioridade do homem e sua própria inferioridade”.

Ocorrem ai três saídas:

a) Diante da castração, cria o que Freud chamou de complexo de masculinidade, a esperança de um dia possuir um pênis e que se tornara homem, dificultando o desenvolvimento no sentido da feminilidade e podendo levar a um comportamento homossexual..

b) Frigidez: insatisfeita com seu clitóris, abandona qualquer atividade sexual fálica.
c) Atitude sexual normal, segundo Freud, situação em que escolhe o pai como objeto de amor, que a levará a uma escolha heterossexual.

Diante de sua ferida narcísica, outras conseqüências podem ocorrer:

I.Sentimento de inferioridade, como punição pessoal para si mesmo e vai compartilhar do desprezo sentido pelos homens, por um sexo que lhes é inferior neste aspecto (em relação ao clitóris).

II. Um afrouxamento da relação afetuosa da menina com seu objeto materno. A mãe é responsável por sua falta do pênis.

III. Sentimento contrário à pratica da masturbação clitoriana, não é regra, é considerada como sendo uma atividade masculina, e se faz pelo sentimento narcísico de humilhação, não poder competir com os meninos. Esse reconhecimento da distinção anatômica dos sexos a afasta da masturbação masculina e da masculinidade e a conduz ao desenvolvimento da feminilidade.

Essa inveja, segundo Freud, depois de abandonar seu objeto, ela persiste deslocada, persiste no traço do ciúme. Isso é o que ocorre na fase pré-édipica da menina, o complexo de castração é primário, ao contrario do menino, e a prepara para vivência do complexo de Édipo.

A partir desse momento, a libido da menina é deslocada, seu desejo de possuir um pênis para o desejo de ter um filho, com esse objetivo, toma o pai como objeto de amor e, a mãe como objeto de seu ciúme. Mais tarde esta relação tem de ser abandonada, pode resultar em uma identificação com ele e então pode retornar ao complexo de masculinidade, fixada nele. Na menina, a dissolução do complexo de Édipo não encontra argumentos, mesmo abandonado é de alguma forma insatisfatória, não superada. “O que a faz abandonar sua atitude ambivalente de amor e ódio em relação aos pais”?

Entender essa questão é sine qua non para compreender de que maneira ele será revivido na adolescência e nos cria um paradoxo: como reviver algo que não foi superado, que ainda existe? Portanto, o complexo de Édipo nas meninas é uma formação secundária, o complexo de castração o antecede e o faz possível, enquanto nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, essa contradição se justifica, segundo Freud, porque o complexo de castração opera no sentido de seu conteúdo, ele inibe e limita a masculinidade e incentiva a feminilidade.

E concluí Freud, “A diferença entre o desenvolvimento sexual dos indivíduos do sexo masculino e feminino no estádio que estivemos considerando”., é conseqüência inteligível da distinção anatômica entre seus órgãos genitais e da situação psíquica aí envolvida, corresponde à diferença entre uma castração que foi executada e outra que foi ameaçada.
Segundo Ceccarelli , “ foram as contribuições de Lacan sobre a sexuação do corpo que mostram , que a inscrição do sujeito na função fálica não considera a diferença anatômica dos sexos . “ Feminilidade ¨ e “ masculinidade ¨ são duas representações do falus , e então , a identidade do sujeito é da ordem do significante , levando o a se posicionar no simbólico como homem ou mulher .

Referências Bibliográficas :
Freud ,S (1908) ,Sobre as teorias sexuais da criança , ESB , vol IIX .
( 1923 ) ,A Organização genital infantil , ESB , Vol : XIX .
( 1925 ) , Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos , ESB ,Vol : XIX , págs 303 à 320 .
Ceccarelli , P ( org ) , Diferenças Sexuais , 1999, pg 157 .
Artigo : A violenta repetição do Édipo na adolescência : O Caso de uma jovem homossexual .
Denise Ribeiro .

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