segunda-feira, 7 de abril de 2008

O TABU DA VIRGINDADE


Discutindo a questão da sexualidade feminina e seu enigma, a partir da leitura do caso da Jovem Homossexual, o escrito de Freud sobre o Tabu da virgindade pode ser interessante para apimentar esse enigma. Também pode ser interessante para sentirmos na leitura estratégias de escrita, necessárias, quando nos colocamos em contato com um saber do que não se sabe. Freud desenvolve várias teses a respeito do Tabu da Virgindade sempre nos fazendo sentir na leitura de cada uma delas uma resposta para logo em seguida apontar para um outro lugar. Termina o capítulo apresentando a “controvertida” tese sobre o Tabu da Virgindade: “Inveja do Pênis”. Mas será que, como as outras “respostas” do texto, essa não é apenas mais uma face do enigma?



Resumo: O TABU DA VIRGINDADE

Nesse escrito, Freud, inicialmente, esclarece o valor do defloramento para os “povos primitivos. Primeiramente, aponta que de forma alguma eram indiferentes ao defloramento. Além de um ato significativo também tornou-se “matéria de tabu”. A prática da ruptura do hímen acontecia fora do casamento. O noivo era “poupado” de ser o autor da “execução”, que acontecia antes da primeira relação sexual marital. Freud apresenta casos de várias culturas onde o defloramento era feito por uma mulher idosa, por outros homens, ou pelo sacerdote.
Freud se pergunta sobre a razão da prática de ruptura do hímen ter se tornado tabu. E aí Freud encontra, como uma primeira explicação, o Tabu do sangue e o Tabu da menstruação entre os povos “primitivos”. Um segunda explicação se liga à questão da presença da neurose de angústia nesses povos. Uma outra explicação estaria ligada a um tabu em relação à mulher. Mas Freud salienta que “os primitivos” instituem um tabu quando temem algum perigo. “ De modo geral, esse perigo é de natureza física, pois o homem primitivo, a essa altura, não é impelido a estabelecer duas distinções, que para nós não podem ser ignoradas. Ele não separa o perigo material do psíquico, nem o real do imaginário. Em sua concepção animista do universo consistentemente aplicada, todo perigo decorre da intenção hostil de algum ser dotado de alguma alma como ele próprio, e isto se aplica tantos aos perigos que o ameaçam, procedentes de alguma força natural, como aos perigos procedentes de outros seres humanos ou animais. Mas, por outro lado, ele está acostumado a projetar seus próprios impulsos internos de hostilidade no mundo exterior, isto é, a atribuí-los aos objetos que sente como desagradáveis ou mesmo, meramente estranhos. Desta maneira,a s mulheres também são consideradas como sendo fonte desses perigos, e o primeiro ato sexual com a mulher destaca-se como um perigo de real intensidade”.
Freud buscando examinar o sentido desse perigo examina o comportamento de mulheres do “próprio estágio atual de civilização”. Freud assinala que mesmo que a mulher pareça demonstrar gratidão e sinais de sujeição duradoura no ponto “máximo” do ato sexual, essa não é a regra em relação ao primeiro ato sexual. Na verdade, o que se percebe é desapontamento e frieza e leva algum tempo para que ela possa experimentar alguma satisfação. Assim, a partir do enigma da frigidez feminina, Freud tenta compreender o tabu da virgindade. “(...)depois da primeira, e por certo, depois de cada experiência repetida de relação sexual, a mulher dá expressão manifesta de sua hostilidade para com o homem, injuriando-o, levantando a mão contra ele ou realmente, batendo-lhe.(...)O perigo que assim se levanta pelo defloramento de uma mulher consiste em atrair sua hostilidade para si próprio, e o marido em perspectiva é exatamente a pessoa que teria toda razão para evitar tal inimizade”.
A esse desapontamento das mulheres, em relação ao primeiro ato sexual, Freud associa a questão das proibições em torno da sexualidade. Durante um bom tempo as mulheres associaram a relação sexual a proibições e estas não são encontradas numa relação sexual legítima, o que as faz perder toda ternura pelo caso de amor. Entretanto, Freud não acha suficiente essa explicação e nos leva a pensar sobre a sexualidade infantil. “O marido é, quase sempre, por assim dizer, apenas um substituto, nunca o homem certo; é outro homem- nos casos típicos o pai-que primeiro tem direito ao amor da mulher, o marido quando muito ocupa o segundo lugar.”
Mas Freud mais uma vez no texto, busca outras razões para o Tabu da Virgindade. Segundo ele, “o primeiro ato de relação sexual ativa na mulher outros impulsos antigos,(...), e estes estão em absoluta oposição a seu papel feminino e à sua função”. Freud desenvolve essa questão apontando para a “inveja do pênis no complexo de castração”. No caso que descreve em que a mulher tornava-se agressiva depois da relação sexual Freud relaciona esse comportamento com uma fase que “existira antes da escolha de objeto. Só mais tarde a libido da menina dirigida para seu pai e, então, em vez de desejar ter um pênis,desejou - um filho” .
Concluindo, Freud escreve que o defloramento desencadeia a reação arcaica de hostilidade para com os homens. Assim, “o tabu da virgindade, que nos parece tão estranho, o horror com que, entre os povos primitivos, o marido evita o ato do defloramento, são plenamente justificados por essa reação hostil”.
Cleide Scarlatelli

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