domingo, 27 de abril de 2008

A mulher não existe!? Como, então, definí-la?


Tem-se tentado definir a mulher das mais variadas formas, pelos mais variados saberes que circulam por esse nosso mundo. Os poetas, então... os escritores, os psicólogos, os sexólogos... A psicanálise mesma originou-se dessa tentativa de saber a respeito das histéricas, que foram as primeiras pacientes de Freud.
A mulher, na obra de Sigmund Freud, foi o ponto de partida para a criação da psicanálise, permanecendo aí como uma incógnita que a própria teoria a que deu lugar não conseguiu abarcar; aquele, então, novo saber não deu conta de apreendê-la, mas se constituiu como saber, criou-se como ciência, deixando sempre um resto que escapa, propiciando que se avance em busca de novos significantes que venham responder as questões que se abrem a cada formulação. No final de sua obra, Freud teria confessado sua decepção e talvez tivesse exclamado:
“A mulher é indizível”.
Toda uma teoria criada a partir dela não conseguiu dizê-la.
Afinal, foi possível à psicanálise abordar a mulher justamente por meio da falta, do que permaneceu desconhecido, do que não foi dito. Não pelo que se sabe, se escreve, se teoriza, mas pelo que não se conseguiu dizer.
Lacan, alguns anos mais tarde, retomou a questão da mulher apontando exatamente para esse lugar da falta, daquilo que permanece indizível, indignando o mundo feminista com seu aforismo: A mulher não existe. As feministas levantaram bandeiras, as analistas mulheres recusaram e debateram tal afirmação. O não existir foi tomado e mal interpretado como desvalorizante e absurdo. Afinal, as mulheres estão aí para dizer que existem e que, cada vez mais, lutam por suas condições de existência.
Porém, a condição de existência no universo simbólico é fálica. As coisas se nomeiam. Nós dizemos O HOMEM para designar homens e mulheres.
Então, homem e mulher são uma questão de posição dentro de uma estrutura de linguagem. Qualquer tentativa de definição é ideológica. Portanto, arriscada a cair numa dualidade especular, fechada, intransitiva, viciada e asfixiante de uma referência imaginária
Gilda Vaz Rodrigues

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